Sem outra alternativa, Portugal aceitou o
Bloqueio, mas, continuou comercializando com
a Inglaterra. Ao descobrir a trama, Napoleão
determinou a invasão de Portugal em novembro
de 1807. Sem condições de resistir à invasão
francesa, D. João e toda a corte portuguesa
fugiram para o Brasil, sob a proteção naval
da marinha inglesa. A Inglaterra ofereceu
escolta na travessia do Atlântico, mas em
troca exigiu a abertura dos portos
brasileiros aos navios ingleses.
A corte portuguesa partiu às pressas de Lisboa sob
as vaias do povo, em 29 de novembro de 1807. Na
comitiva vinha D. João, sua mãe D. Maria I, a
princesa Carlota Joaquina; as crianças D. Miguel,
D. Maria Teresa, D. Maria Isabel, D. Maria
Assunção, D. Ana de Jesus Maria e D. Pedro, o
futuro imperador do Brasil e mais cerca de 15 mil
pessoas entre nobres, militares, religiosos e
funcionários da Coroa. Trazendo tudo o que era
possível carregar; móveis, objetos de arte, jóias,
louças, livros, arquivos e todo o tesouro real
imperial.
Após 54 dias de viagem a esquadra portuguesa
chegou ao porto de Salvador na Bahia, em 22 de
janeiro de 1808. Lá foram recebidos com festas,
onde permaneceram por mais de um mês.
Seis dias após a chegada D. João cumpriu o seu
acordo com os ingleses, abrindo os portos
brasileiros às nações amigas, isto é, a
Inglaterra. Eliminando em parte o monopólio
comercial português, que obrigava o Brasil a fazer
comércio apenas com Portugal.
Mas o destino da Coroa portuguesa, era a capital
da colônia, o Rio de Janeiro, onde D. João e sua
comitiva desembarcaram em 8 de março de 1808 e
onde foi instalada a sede do governo.
Na chegada ao Rio de Janeiro, a Corte portuguesa
foi recebida com uma grande festa: o povo
aglomerou-se no porto e nas principais ruas para
acompanhar a Família Real em procissão até a
Catedral, onde, após uma missa em ação de graças,
o rei concedeu o primeiro "beija-mão".
A transferência da corte portuguesa para o Rio de
Janeiro provocou uma grande transformação na
cidade. D. João teve que organizar a
estrutura administrativa do governo. Nomeou
ministros de Estado, colocou em funcionamento
diversas secretarias públicas, instalou tribunais
de justiça e criou o Banco do Brasil (1808).
Era preciso acomodar os novos habitantes e tornar
a cidade digna de ser a nova sede do Império
português. O vice-rei do Brasil, D. Marcos de
Noronha e Brito cedeu sua residência, O Palácio
dos Governadores, no Lago do Paço, que passou a
ser chamado Paço Real, para o rei e sua família e
exigiu que os moradores das melhores casas da
cidade fizessem o mesmo. Duas mil residências
foram requisitadas, pregando-se nas portas o "P.R.",
que significava "Príncipe Regente", mas que o povo
logo traduziu como "Ponha-se na Rua". Prédios
públicos, quartéis, igrejas e conventos também
foram ocupados. A cidade passou por uma reforma
geral: limpeza de ruas, pinturas nas fachadas dos
prédios e apreensão de animais.
As mudanças provocaram o aumento da população na
cidade do Rio de Janeiro, que por volta de 1820,
somava mais de 100 mil habitantes, entre os quais
muitos eram estrangeiros – portugueses,
comerciantes ingleses, corpos diplomáticos – ou
mesmo resultado do deslocamento da população
interna que procurava novas oportunidades na
capital.
As construções passaram a seguir os padrões
europeus. Novos elementos foram incorporados ao
mobiliário; espelhos, bibelôs, biombos, papéis de
parede, quadros, instrumentos musicais, relógios
de parede.
Com a Abertura dos Portos (1808) e os Tratados de
Comércio e Navegação e de Aliança e Amizade (1810)
estabelecendo tarifas preferenciais aos produtos
ingleses, o comércio cresceu. O porto do Rio de
Janeiro aumentou seu movimento que passou de 500
para 1200 embarcações anuais.
A oferta de mercadorias e serviços
diversificou-se. A Rua do Ouvidor, no centro do
Rio, recebeu o cabeleireiro da Corte, costureiras
francesas, lojas elegantes, joalherias e
tabacarias. A novidade mais requintada era os
chapéus, luvas, leques, flores artificiais,
perfumes e sabonetes.
Para a elite, a presença da Corte e o número
crescente de comerciantes estrangeiros trouxeram
familiaridade com novos produtos e padrões de
comportamento em moldes europeus. As mulheres
seguindo o estilo francês; usavam vestidos leves e
sem armações, com decotes abertos, cintura alta,
deixando aparecer os sapatos de saltos baixos.
Enquanto os homens usavam casacas com golas altas
enfeitadas por lenços coloridos e gravatas de
renda, calções até o joelho e meias. Embora apenas
uma pequena parte da população usufruísse desses
luxos.
Sem dúvida, a vinda de D. João deu um grande
impulso à cultura no Brasil.
Em abril de 1808, foi criado o Arquivo Central,
que reunia mapas e cartas geográficas do Brasil e
projetos de obras públicas. Em maio, D. João criou
a Imprensa Régia e, em setembro, surgiu a Gazeta
do Rio de Janeiro. Logo vieram livros didáticos,
técnicos e de poesia. Em janeiro de 1810, foi
aberta a Biblioteca Real, com 60 mil volumes
trazidos de Lisboa.
Criaram-se as Escolas de Cirurgia e Academia de
Marinha (1808), a Aula de Comércio e Academia
Militar (1810) e a Academia Médico-cirúrgica
(1813). A ciência também ganhou com a criação do
Observatório Astronômico (1808), do Jardim
Botânico (1810) e do Laboratório de Química
(1818).
Em 1813, foi inaugurado o Teatro São João (atual
João Caetano). Em 1816, a Missão Francesa,
composta de pintores, escultores, arquitetos e
artesãos, chegaram ao Rio de Janeiro para criar a
Imperial Academia e Escola de Belas-Artes. Em
1820, foi a vez da Real Academia de Desenho,
Pintura, Escultura e Arquitetura-civil.
A presença de artistas estrangeiros, botânicos,
zoólogos, médicos, etnólogos, geógrafos e muitos
outros que fizeram viagens e expedições regulares
ao Brasil – trouxe informações sobre o que
acontecia pelo mundo e também tornou este país
conhecido, por meio dos livros e artigos em
jornais e revistas que aqueles profissionais
publicavam. Foi uma mudança profunda, mas que não
alterou os costumes da grande maioria da população
carioca, composta de escravos e trabalhadores
assalariados.
Com a vitória das nações européias contra Napoleão
em 1815, ficou decidido que os reis de países
invadidos, pela França deveriam voltar a ocupar
seus tronos.
D. João e sua corte não queriam retornar ao
empobrecido Portugal. Então o Brasil foi elevado à
categoria de Reino Unido de Portugal e Algarves
(uma região ao sul de Portugal). O Brasil deixava
de ser Colônia de Portugal, adquiria autonomia
administrativa.
Em 1820, houve em Portugal a Revolução Liberal do
Porto, terminando com o Absolutismo e iniciando a
Monarquia Constitucional. D. João deixava de ser
monarca absoluto e passava a seguir a Constituição
do Reino. Dessa forma, a Assembléia Portuguesa
exigia o retorno do monarca. O novo governo
português desejava recolonizar o Brasil, retirando
sua autonomia econômica.
Em 26 de abril de 1821, D. João VI cedendo às
pressões, volta a Portugal, deixando seu filho
D.Pedro como príncipe regente do Brasil.
28/01/08
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